segunda-feira, 2 de julho de 2012

As rosas não falam


Caro leitor,

Hoje, segunda-feira chuvosa e fria, em Cambridge, e nada de o verão chegar. A ilha é assim, pouco iluminada, mas é bonita. Anteontem perdi minha sombrinha. Já é a segunda que perco aqui. Até então, eu não perdia sombrinhas. Por isso, hoje tomei bastante chuva.

E, pela manhã, quando ia à Faculdade de Educação, não resisti a observar uma flor. Na verdade, duas abelhas que me chamaram a atenção. Uma em especial, porque era muito engraçada. Ela entrava na flor e ficava presa no miolo, com as pernas para cima, e tinha a maior dificuldade para sair. Também porque as abelhas aqui são gordas.

Havia várias flores, mas ela gostava de duas. E que abelhinha maluca! Um desespero pelo néctar. Seria fome? Será que ela leu em algum jornal de abelhas que o mundo ia se acabar? Mas o mundo não se acabou. Não que eu saiba.

As flores de hoje, cujo nome desconheço, são cheirosas. Um cheiro diferente. A vida das abelhas não deve ser fácil, mas é muito charmosa. Elas se alimentam do néctar. Voam. Zanzam. Engordam. Talvez emagreçam. Talvez. Vivem algumas meio esbaforidas, como esta que vi hoje pela manhã. Quase lhe perguntei se ela não tinha encontrado meu guarda-chuva aí pelas ruas.

Mas essa abelha não me dava bola. Acho que nem viu que era fotografada. Era uma abelha bem introspectiva e talvez feliz por ser abelha.

Mais tarde, bem mais tarde, fui ao Centro da cidade e entrei na livraria da Universidade de Cambridge para saber se havia um livro que me interessava. Não havia, porque lá só há livros publicados pela própria Universidade. Mas havia um outro, uma publicação mais barata sobre filosofia, intitulado "Fear and Trembling", de Kierkegaard, o pai do existencialismo.

Eu gosto muito dos existencialistas. E acho que esse livro vale pelo título. Perfeito para alguém que está na fase de ir para o fim do doutorado...

No fundo no fundo eu não queria ser abelha. Vai que eu fique presa numa flor e ninguém apareça para me salvar? Como já bem disse o poeta: "As rosas não falam...". E as abelhas também não.

Mas é no silêncio que elas se tornam belas. Inesquecíveis. Como bela e inesquecível é a vida.

Até!
Rosane.
Cambridge, 2 de julho de 2012.














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