quinta-feira, 3 de maio de 2012

Violetas beeemmmm longe da minha janela!












Caro leitor,

Nesse tempo em que fiquei sem escrever no blog, ao abri-lo descobri que eles criaram uma nova versão, e agora não sei muito mais como mexer com isso. Ficou mais difícil. Eu tenho uma raiva dessa necessidade doentia de atualização!

As fotos aqui foram tiradas há uns dias no jardim da frente da casa onde moro. O dono da casa, o Stuart, adora mexer com plantas. Eu tentei algumas vezes fazer as fotos, mas não era possível, pois as flores vermelhas e brancas se abriam e, quando eu voltava com a máquina, elas tinham se fechado. Demorei para compreender o processo... Parece que, quando aparece um solzinho, elas se abrem. E depois se fecham.

Aqui é primavera, como eu já disse, mas nem parece. É uma primavera diferente. Não tem sol. Só chove. Fica escuro, escuro, e os pássaros cantam, cantam...

Hoje, enquanto eu finalizava um artigo que eu e o Pedro trabalhamos muito nele, com os primeiros resultados da nossa pesquisa de doutorado, e que vou tentar publicar em Inglês (tentar não custa nada!!!), fui atualizar os dados que se encontravam no último parágrafo do texto, onde eu menciono a pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil/Instituto Pro-Livro 2008".

É que descobri, há um tempinho, que há uma edição nova, de 2011, mas que só foi publicada em forma de um resumão. O que me deixa cada vez mais encabulada é que os políticos brasileiros conseguem piorar o que nunca foi bom. Ou seja: a pesquisa comprovou que diminuiu o número de leitores no Brasil. Mas o que me deixou ainda mais encabulada foram alguns critérios adotados pelos pesquisadores. Vou tentar resumi-los abaixo:

1) Introdução do conceito de livro: os pesquisadores criaram a seguinte definição de livro:

"Ao falar de livros, estamos falando de livros tradicionais, livros digitais/eletrônicos, áudios livros digitais-daisy, livros em braile e apostilas escolares. Estamos excluindo manuais, catálogos, folhetos, revistas, gibis e jornais".


O Português deles também não é dos melhores! Mas fiquei bastante impressionada foi com a definição do que seja livro. Apostilas também são livros? Será que bula de remédio também não entraria? Eu sempre fui uma leitora ávida de bula de remédio. Só há uns poucos anos cheguei à conclusão de que, dependendo da circunstância, se lermos bulas de remédio, não os tomamos nunca, e parei. E tem hora que temos que tomá-los.

2) Leitor: outra coisa curiosa é que, para os pesquisadores, leitor é aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos últimos meses; e não-leitor é aquele que não leu nenhum livro nos últimos três meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12.

Então alcoólatra é aquele que bebeu pelo menos uma cerveja nos últimos meses e não-alcoólatra é aquele que não bebeu nem uma cerveja nos últimos três meses, ainda que tenha enchido a cara em todos os meses anteriores? E aqueles que sofrem de uma síndrome, de cujo nome não me recordo agora, que só bebem uma vez por ano, nas festas natalinas, e são considerados alcoólatras graves?

Então não é considerado um ladrão quem não roubou nada nos últimos meses, mas que roubou em todos os meses anteriores? Quanto mais a gente vive, mais se espanta!

Eu me considero uma boa leitora, mas há períodos em que não suporto ler livros, ou os leio bem devagar, e há outros períodos em que leio um montão. Então, se um desses entrevistadores me encontra pela rua e me pergunta se li algo nos últimos três meses e lhe digo que não, que estava de saco cheio, quer dizer que ele vai me cortar do mapa de leitores no Brasil? Justo eu, uma aluna tão dedicada!!!

E se ele, por acaso, encontrar pela rua uma senhora que, pela primeira vez na vida, resolveu ler o primeiro capítulo de um livro da genial Zibia Gasparetto (não me levem tão a sério!), esta senhora será considerada uma leitora? E quer dizer que um fulano que lê só um capítulo é considerado leitor?

3) Preferência: a Bíblia continua sendo o livro mais lido no Brasil. Vai ver que é por isso que o Brasil anda tão em paz, não é mesmo?

4) Gostos: depois da Bíblia, a obra mais lida é Ágape, do sacrossanto Padre Marcelo Rossi. Prometi a mim mesma que, terminado meu doutorado, vou me dedicar à leitura dessas obras-primas brasileiras. Quanto tempo perdido, não, lendo Machado de Assis, Clarice Lispector, os clássicos da literatura brasileira, Drummond... Por que não ler o Padre Marcelo? Para não aumentar a minha indignação, vou citar só mais alguns: em terceiro lugar, A Cabana; em quarto, Crepúsculo; e, em quinto, Violetas na Janela, da Dona Zibia Gasparetto. E, em 22º lugar, e último, aparece Memórias Póstumas de Brás Cubas.

5) Menos leitores: os dados revelam que o número de leitores no Brasil caiu de 2007 para 2011, de 55% para 50%, e concluem:

"Assim como nas edições anteriores, a pesquisa confirma as principais correlações com a leitura: escolaridade, classe social e ambiente familiar. Quanto mais escolarizado ou mais rico é o entrevistado, maior é a penetração da leitura e a média de livros lidos nos últimos três meses."


Só não compreendo por que esses pesquisadores encasquetaram que leitor é aquele que leu nos últimos três meses!


Até!
Rosane.
Cambridge, 3 de maio de 2012.




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