terça-feira, 15 de maio de 2012

Yes, nós temos bananas!!!



Caro leitor,

Na quinta vai acontecer a palestra do professor neo-zelandês que vai falar sobre o Paulo Freire. E, pensando sobre educação, hoje tive uma experiência que me deixou muito contente. Uma coisa bem simples, mas bem representativa para mim.

Liguei na British Airways, em Londres, para resolver uma questão relacionada ao meu vôo de volta ao Brasil. Quando cheguei aqui, ficava com muito medo - ou quase pavor - de ter que conversar com as pessoas pelo telefone. A primeira vez foi quando eu liguei para tentar encontrar um lugar para morar e falei com uma senhora muito simpática, dona de uns apartamentos.

Ano passado, pouco antes do Natal, houve um chá aqui na casa onde moro, e a dona convidou algumas pessoas para colaborarem, pois o objetivo era vender algumas coisas para doar o dinheiro a pessoas com deficiência visual.

Sei que comecei a conversar com uma mulher, a Érica, que está aposentada como enfermeira, e é casada com um jornalista do The Daily Telegraph. Ela me convidou para um café na casa dela, em 2012, mas eu não tinha coragem de telefonar. Aí, um dia de neve, a vi caminhando aqui na rua onde moro, indo em direção à igreja, e fiquei frustrada por não ter tido tempo de lhe dizer um "oi" e lembrá-la do nosso café.

Por sorte, da última vez que fui à igreja - anglicana! - com a dona da casa, a Marion, encontramos a Érica e lhe disse que gostaria muito de marcar um café com ela, mas que tinha tido receio aquele tempo todo de ligar, porque não me sentia bem falando em Inglês ao telefone. Ela me deu o e-mail e tivemos o café - eu, ela e o marido dela, e conversamos muito - em Inglês!

Sei que, como me disse a Brenda, minha professora de Inglês, só há uma maneira de perder o receio: falando, errando, aprendendo. Mas o engraçado é que, desde que cheguei, tento conversar o máximo que posso, e isso me ajudou demais, mas o tal do telefone...

Só que, hoje, depois de dez meses aqui, foi muito tranqüilo falar com a atendente da British por um tempão... Que alegria!

Eu me achava incapaz de aprender Inglês. Tirei uma nota vermelha no colégio lá em Nerópolis, um 3,5, quando garota. Lembro-me como se fosse hoje. Para aquela menina tão estudiosa e preocupada com o futuro, foi um golpe duro. Tanto que, depois que comecei a trabalhar como jornalista no jornal em Goiânia, e de ter um salário mais ou menos legal, resolvi estudar Espanhol, e não Inglês.

Mas, felizmente, persisti. Por curiosidade, por birra, por necessidade, por prazer. Comecei a estudar Inglês para valer, com a Brenda, em 2007, entre umas paradas e retornos. Fiz dois Toefl e um Ielts para vir para a Inglaterra e fiquei muito ansiosa, porque tinha que obter a nota média exigida pelo governo brasileiro para obter a bolsa no exterior. Mas a cada dia que passo vejo como é bonito o processo de aprendizagem.

Tudo isso para dizer: quantas pessoas desistem nas escolas da vida por se sentirem incapazes de aprender? Eu achava que não aprenderia Inglês. E aprendi. E estou aprendendo. E vou aprender sempre mais.

E falar Inglês agora soa tão natural, ou quase tão natural, como falar Português. Quando estou falando em Inglês ou em Espanhol aqui, as duas línguas que mais uso, nem me dou conta mais de que não é a minha própria língua. Meu cérebro se sente confortável. E meu coração também.

Mas sinto falta da minha língua para poder expressar o que realmente sinto e penso. Mas, quando falo em minha língua, também me faltam palavras para poder expressar o que realmente sinto e penso. Mas é a minha língua. E isso faz toda a diferença.

E, sim, nós temos bananas! Mas temos também na nossa história Cora Coralina, Dom Paulo Evaristo Arns, Dona Zilda Arns, Dom Pedro Casaldáliga, Paulo Freire, pessoas conhecidas e anônimas, professores, agricultores, brasileiros que, mais ou menos, sonham ou sonharam com um mundo melhor.

Eu sobrevivi à alienação da escola pública. Mas quantos sobrevivem? Quantos?

P.S. O quadro acima é o Abaporu, da Tarsila do Amaral. Há uns anos, tentei vê-lo, em São Paulo, mas tinha sido emprestado à Espanha. Fiquei meio frustrada. Quero voltar a Sampa para vê-lo. Ou não.


Até!
Rosane.
Cambridge, 15 de maio de 2012.





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