terça-feira, 8 de maio de 2012

Que falta faz a utopia...


Caro leitor,

Hoje é terça-feira e estou aqui na Faculdade, tentando encontrar o endereço de mais escolas em Cambridge para pedir-lhes autorização para visitá-las. Já fiz isso há um tempo, mas apenas um diretor de escola me respondeu. É que gostaria de saber como eles incentivam a leitura, se têm bibliotecas.

Aqui na Faculdade, desde o início, me disseram que não seria possível, mas, uma colega chinesa, que esteve aqui no ano passado, me sugeriu enviar cartas às escolas e explicar-lhes sobre a minha pesquisa.

Acho que, este mês, a única coisa interessante para mim que vai acontecer por aqui é a palestra de um professor da Nova Zelândia, Peter Roberts, que já publicou livros sobre Paulo Freire. O tema será "Possible dreams: Paulo Freire and Utopian Education". Peguei emprestado, na biblioteca, um livro desse professor e estou tentando lê-lo. O título é "Paulo Freire in the 21st century - Education, dialogue, and transformation".

Incomodou-me esta vírgula antes do "and", porque não seria comum na nossa língua, mas tive que aceitá-la. E espero que seja interessante a palestra, porque é difícil encontrar coisas realmente interessantes no meio acadêmico.

Hoje vi na capa de um jornal on-line que vão investigar o Marconi Perillo, governador de Goiás. Parece que a única diferença dos políticos mais antigos para os mais novos (nem sempre em idade!) é que os de hoje são cada vez mais cara-de-pau e a imprensa está, aparentemente, mais livre para denunciar. Mas a imprensa é uma grande farsa. Para mim, o único jornalista que realmente admiro no Brasil, entre esses mais conhecidos, é o Mino Carta.

Escolhi esta foto do Paulo Freire porque o olhar dele me faz pensar na utopia. Admiro muito pessoas como o Freire e tantas outras que lutaram - ou ainda lutam - pelo Brasil, entre elas Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Pedro Casaldáliga, com sua luta a favor dos oprimidos, em São Félix do Araguaia (Mato Grosso). Antes de vir para a Grã-Bretanha, conversei com a jornalista da Pastoral da Criança de Curitiba, que estava em Campinas, e disse a ela da minha admiração pelo Casaldáliga e que gostaria de conhecê-lo pessoalmente. Ela me disse que, seu eu quisesse, ela iria em breve participar de um evento lá, no Mato Grosso, e eu poderia ir junto, mas para mim era inviável.

Trabalhei por um tempo como jornalista voluntária na Pastoral da Criança de Campinas, mas a igreja católica não é fácil não. Embora a Pastoral da Criança seja ecumênica, torna-se difícil lidar com a igreja católica como ela está hoje, a meu ver muito reacionária.

Mas, de volta a Paulo Freire, gostaria muito de ter esse espírito de acreditar, mas ele se esvai a cada dia. A minha utopia se mantém, mas eu não vejo a possibilidade agora de um mundo melhor. O Brasil não é dos brasileiros e nunca será. O Brasil é dos marconis da vida. Queria saber em que momento da vida de uma pessoa ela é contaminada pelo sangue da corrupção. Que desejo doentio é esse pelo dinheiro, pelo poder?

Goiás, que tem cachoeiras naturais tão bonitas, também tem o tal Carlinhos Cachoeira. Há anos este cara está na mídia, envolvido com o crime organizado, e fica por isso mesmo. Há dezenas de Cachoeiras espalhados pelo Brasil.

Este não é - e talvez não seja jamais - o Brasil com o que eu sonhava quando era criança. É uma grande decepção saber que nasci num Estado tão bonito, Goiás, e também tão fértil para a corrupção. Em São Paulo, onde vivi por mais de dez anos, e onde me sinto meio estrangeira, o PSDB também está lá, como em Goiás.

Por que as pragas se alastram com tanta facilidade? Por que é mais comum ter tantos Carlinhos Cachoeiras do que Pedros Casaldáligas? Por que brotam mais Marconis Perillos no solo brasileiro do que Dom Paulo Evaristo Arns? Por que o Brasil é isso? Por que tem que se tão difícil viver no nosso próprio País? Cadê a cidadania? Cadê o respeito? Cadê a ética?

Não há! Na política, na economia, não há.

Para aqueles que dormem em berço esplêndido no Brasil, este meu texto - caso um dia o lessem - soaria como despeito ou idiotice. Para mim, é a expressão de uma tristeza por saber que, provavelmente, terei que passar o resto dos meus dias num País que para mim é uma grande decepção. Nem sequer sei se terei emprego quando terminar meu doutorado!

E aqueles que nem sequer sabem ler e escrever? Como sobrevivem? Seriam eles utópicos como eu? Ainda esperam por um mundo melhor? Felizmente, acho que o desânimo também deve fazer parte da utopia. Deve fazer. Vai ver que a utopia nada mais é do que uma alegria frágil que desponta quando tudo é muito escuro. Sempre quero acreditar que no mesmo solo onde brota a corrupção também brota a ética. Só tenho receio sobre qual das duas sobreviverá no Brasil, porque a corrupção ainda é a principal semente que germina, desponta, cresce e se eterniza.

Este, sim, é o Brasil Brazil... Berço da corrupção!

O Brasil do sonho, da utopia, esse eu não vou ver. Mas pode ser que um dia isso seja possível.

Até!
Rosane.
Cambridge, 8 de maio de 2012.
































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