terça-feira, 1 de maio de 2012

A chuva cai lá fora


Olá, caro leitor!

Passei um tempão sumida... É que estávamos de férias da Faculdade. Não é que eu não tenha nada para escrever. Tenho muita coisa. Mas é que o frio e a chuva aqui na Europa, especialmente na Inglaterra, vão sugando as energias.

São meses. Meses. Meses. Meses. Meses de frio. E agora uma chuva quase constante há dias.


Ontem, pela primeira vez, vi, da janela do meu quarto, o clarão de uns relâmpagos e o barulho não muito forte de um trovão. Eu tinha dito ontem mesmo à minha mãe que nunca tinha visto trovão e relâmpagos por aqui. É que o Reino Unido e, pelo que me disseram, a Europa como um todo, tem enfrentado uma longa seca. E na primavera começou a chover.

Eu gosto muito de chuva. Acho bonita e necessária. Mas é que, como o frio é longo demais, parece que naturalmente começamos a sentir o corpo pesar, pesar. E, quando se sai às ruas, especialmente se for de bicicleta, o vento forte que às vezes aparece, faz o corpo ficar três ou quatro vezes mais pesado, e a locomoção fica meio difícil. Mas é a vida. Acho que frio e chuva ainda são melhores do que lidar com problemas mais sérios, como a corrupção política no Brasil.

Não vou entrar em mais detalhes agora, mas fico cada vez mais estarrecida com a corrupção política, que acontece no mundo todo, mas no Brasil é descarada demais. Quero me referir aos políticos do meu Estado, Goiás, os senhores Marconi Perillo, o senhor Demóstenes Torres, e toda a corja que dela faz parte. Eu tinha, como já disse, transferido meu voto para Campinas porque não agüentava mais os políticos de Goiás. E aí votei no Doutor Hélio duas vezes...

Vou ficando por aqui. Estou lendo um texto sobre as bibliotecas no Reino Unido, já que pesquiso sobre bibliotecas escolares. A situação aqui não vai bem, porque o governo tem cortado os investimentos nas bibliotecas já faz muitos anos. Para os políticos, é só mais um corte de verbas.

O que me preocupa é que, como estou em busca de experiências que deram certo quanto ao estímulo à leitura, se digo que aqui também, no Primeiro Mundo, a situação não é tão boa, é capaz de os nossos políticos dizerem: "Tá vendo, nós não temos culpa de nada! Os ricos também têm problemas parecidos".

Mas, como sou apenas uma pesquisadora, e como políticos não ouvem pesquisadores - ou só algumas estrelas! -, tudo ficará como está.  Embora eu seja utópica, a cada dia que passa fico mais espantada com a falta de brio na cara dos políticos brasileiros e me pergunto se será mesmo diferente esse país um dia. Políticos, em geral, são corruptos, mas os nossos foram além da conta. Acho muito difícil acreditar em um país como o Brasil, com os vergonhosos e desrespeitosos políticos que nós temos.

Aqui na Europa, eles andam pensando que o Brasil está crescendo muito, que todos nós temos dinheiro, que a situação econômica está vigorosa, que estamos nos tornando poderosos economicamente. Ah, do que não são capazes as propagandas... Dizem mesmo que têm coisas mudando no Brasil e, se tem gente vivendo melhor, bom para elas. Eu não vejo nada de diferente. Eu não acredito em governos que não invistam seriamente em educação.

O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) foi criado há mais de uma década, por exemplo, o Ministério da Educação já gastou rios de dinheiro com isso, e para quê? Quando se visita as escolas públicas e se pergunta sobre o PNBE, ninguém nem sabe do que se trata. Não é com livros que se muda uma nação. É com políticas sérias de educação. Livro é só uma peça do jogo. Mas no Brasil não se pensa o país como um todo. Tudo é maquiagem política. Ninguém lê nas escolas públicas, mas qual o problema? O governo faz a parte dele, não faz?. Envia os livros... Se os alunos e os professores não lêem, é porque eles não querem, não têm iniciativa. O problema é sempre do professor, não é?

Nossa política é vergonhosa em todos os cantos do País. Acho que marconis, demóstenes, doutores hélios são uma vergonha que deveria ser extirpada da face da Terra, mas eles criam raízes, deixam filhos, netos, bisnetos, amigos e caras-de-pau que, como eles, seguirão seus passos. Goiás é um Estado tão bonito, mas desde sempre tem sido sugado por famílias poderosas e coronéis descarados.

Sou brasileiríssima, mas desde pequena eu nunca gostei muito do Brasil que me apresentaram. Não sei se é raiva ou vergonha ou desânimo de ver que os anos passam e elegem-se as mesmas corjas. O que fazer para recriar o país? O que fazer para recriar a nós mesmos?

Eu não sei mais se quero contribuir para mudar o Brasil. Não sei se vale a pena. Dá uma certa culpa, mas dá também vontade de virar as costas e dizer: "dane-se!". Mas aí, penso comigo mesma, se todos que ainda gostamos do Brasil fizermos isso, aí sim que a malandragem vai deitar e rolar. Se mesmo com leis e punições (quando existem), eles fazem e desfazem, imagina se ninguém cobra, se ninguém protesta?

Eu, definitivamente, não acredito na escola pública que temos. Se eu fosse a presidenta Dilma, fecharia todas. Não farão falta alguma. Não essas que estão aí como estão. E tem um monte de pesquisador por aí defendendo a escola pública, sem nunca ter ido um dia sequer ate lá, para ver como elas são mais parecidas com prisões do que com escolas. Nossos políticos são especialistas em matar o futuro da nossa educação, porque sequer há presente.

Eu, se fosse a Dilma, fecharia a educação no Brasil para uma grande reforma. Muita gente que fica milionária vendendo livros e computadores e carros e papel higiênico e isso e aquilo para o Ministério da Educação ficaria em polvorosa. Mas, sem isso, os papéis higiênicos - quando eles existem nos banheiros da escolas públicas! - continuarão a ser muito mais interessantes para alunos, funcionários e professores do que qualquer obra clássica da literatura brasileira...

Até!
Rosane.
Cambridge, 1 de maio de 2012.



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