Caro leitor,
Aqui é sexta-feira e o sol apareceu. Não sei por quanto tempo vai durar, mas está um dia bem bonito.
Acabo de prometer a mim mesma que vou escrever pouco. Estas fotos eu as tirei, ontem, quando dei uma pausa aqui na Faculdade e caminhei até o Centro. Chovia e ventava muito.
Estava faminta e resolvi almoçar num pub que já conhecia. O nome dele é The Baron of Beef. Havia poucas pessoas lá, eram umas duas e meia, e, pela primeira vez, senti que eu realmente estava num país que não era o meu. Na verdade, eu tinha sentido isso antes, mas desta vez foi diferente. Foi um sentir mais profundo. A comida, o sabor (ou a falta dele!), as pessoas tão inglesas, com seus acentos carregados, os ônibus gigantes que passavam lá de fora, aquela cara da Inglaterra que vemos na televisão, nas fotos, nos filmes, as pessoas que caminhavam apressadas, através da vidraça, que esperavam o ônibus... Foi uma sensação muito bonita, mas estranha ao mesmo tempo. Tudo aquilo acontecia ali, diante do meu olhar de estrangeira.
Saí caminhando por Cambridge, de volta para a Faculdade. Uma longa caminhada. Tirei fotos de lugares que eu já havia fotografado inúmeras vezes, mas parece que cada vez muda o olhar e mudam os lugares. E muda o rio, como diria Heráclito! Fico pensando: somos nós que estamos nos lugares ou são os lugares que estão em nós?
Já estou na fase de despedida. Dia 13 completam-se dez meses que desembarquei na Inglaterra. Talvez eu já comece a me despedir com saudade de um ano na minha vida que parece ter valido por cem anos. Nunca imaginei que fosse absorver tanta coisa. Eu não diria conhecimento. Isso não. Mas acho que tenho aprendido muito com as coisas mais simples que se possa imaginar. Aprender, talvez, que nesse curto espaço de tempo parecido com um sonho, nossa vida acontece. E no rastro ficam as memórias. E que pena que o tempo passa. Que pena que não estaremos nesse mundo para sempre! Só o tempo estará.
Até!
Rosane.
Cambridge, 11 de maio de 2012.
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