segunda-feira, 11 de junho de 2012

As mil faces do espelho


Caro leitor,

Aqui voltou a fazer muito frio e a chover. O tempo está curto para atualizar o blog, mas aqui estão algumas fotos do Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Trento e Rovereto (MART), na província de Rovereto, na Itália.

Há umas duas semanas eu estive lá por uma única razão: ver "Alice no País das Maravilhas", uma exposição que eu perdi em Liverpool e que depois foi para essa distante região italiana.

Fui em dia de terremoto, o mais recente deles. Mas não senti o tremor, porque estava dentro do trem, que tinha saído de Veneza e que pararia em Verona para uma conexão. Um tempo depois que cheguei a Verona, descobri que tinha perdido o trem para Rovereto, pois fiquei esperando-o na plataforma errada. E aí tudo parou por horas.

A voz da mulher, no sistema de alto-falantes, avisava que os trens não podiam circular e que não sabiam o que acontecia, mas achavam que era um "abalo sísmico". E era.

Pensei que fosse perder a exposição. Mas consegui chegar às quatro da tarde, duas horas antes de o museu fechar. Vi Alice.

Era mais uma busca de inspiração, porque a tese tem Alice como metáfora. E essa metáfora é a coisa de que mais gosto na dissertação.

Se encontrei a inspiração? Acho que sim, embora a reescrita ainda não flua. Mas, enquanto isso, vou digitando as centenas de livros e criando tabelas enormes que depois sabe-se lá como usá-las no corpo da tese. Muito trabalho pela frente.

Rovereto é muito bonita. Mas não deu tempo de andar muito por lá. Tentei fazer uma caminhada mais rápida, depois que o museu fechou, às seis, mas, um tempo depois, começou a chover e a noite começou a cair.

Rovereto é pequena e fica entre montanhas. A sensação de estar lá é tão boa. Ela é muito charmosa, muito mesmo. Eu diria que é até mais charmosa que Veneza. É uma cidade peculiar. Comi pizza e tomei sorvete por lá!

Eu não senti a Terra tremer naquele dia, embora eu quisesse muito saber como é. Mas algo dentro de mim se deslocou, como as placas tectônicas, que se mexem e nunca mais voltam a ser como antes. Algo que vai fazer uma diferença.

Foi uma aventura adentar o interior da Itália, em dia de terremoto, para ver Alice. Vi Alice em italiano, embora eu não fale italiano. Mas Alice é tão doce. E no espelho ela é tão real.

E eu queria ter estado no museu o dia todo para, talvez, apreciar ainda mais esse mundo de Carroll e as recriações inspiradas em sua obra. Mas eu só tinha duas horas. Mas o que conta na vida é a quantidade ou a intensidade das coisas?

A Itália ficou meio impregnada em mim. Quem sabe agora eu ande menos apressada, em busca de não sei o quê, porque talvez a resposta esteja bem ali, em frente, quase à vista, quase palpável?

Vou dizer ao coelho de Alice para parar de correr. E também vou dizer a ele que nem sempre nós começamos do começo. Às vezes começamos do meio. Ou do fim. É que nós confundimos e pensamos que é o começo.

Até!
Rosane.
Cambridge, 11 de junho de 2012.











Nenhum comentário:

Postar um comentário