Blog da jornalista e doutoranda em Educação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),Rosane de Bastos Pereira, como Visiting Scholar na Faculdade de Educação da Universidade de Cambridge, Reino Unido, com bolsa de doutorado sanduíche concedida pela Capes.
domingo, 17 de junho de 2012
O vôo das idéias
Caro leitor,
Não faltam coisas para pôr aqui no site, mas não tenho muito ânimo. Só penso na minha tese e naquilo que ainda me falta.
Na verdade, é como se não faltasse mais nada, há até excesso de informação, mas tenho a sensação de que falta aquilo que me servirá de arremate.
Mas as coisas, quando menos esperamos, acontecem.
Desde que cheguei a Cambridge, a única professora que se sentou comigo por uma hora, em sua sala no 3º piso da bonita Faculdade de Educação, para realmente me ouvir e me ajudar, foi Gabrielle Cliff Hodges, que me foi indicada pela professora Morag Styles.
Gabrielle tem uma larga experiência com professores em sala de aula e, embora séria e reservada como a maior parte dos professores, sempre se mostrou simpática e foi a única que respondeu ao meu e-mail quando eu tentava encontrar alguém na Faculdade que pudesse me dar uma luz.
Também comecei a perguntar aqui e ali se eu poderia visitar escolas e me diziam que era meio difícil. Mas uma colega chinesa, de Macau, que esteve aqui no ano passado, me disse: envia cartas. Enviei e só um diretor me respondeu, me dizendo que não podia me atender.
No começo deste ano, resolvi enviar mais cartas e tive a sorte de visitar uma escola, há pouco tempo, chamada Mayfield, onde acompanhei as atividades da biblioteca, durante o intervalo de aula. Lá também descobri que há na Inglaterra o "Reading recovery teacher", um professor que é contratado para acompanhar as crianças com problemas de leitura, que eles chamam de "reluctant reader". A professora da Mayfield está de férias e aguardo o contato dela para uma conversa.
Mas eu queria mesmo era falar das coisas que acontecem sem que esperemos...
Estou pagando caro para estar na Faculdade de Educação de Cambridge e tudo o que se ouve por lá é "não", "não", "não", com uma arrogância de revirar o estômago. Parece que eles pensam que estão nos fazendo um favor em nos permitir estar aqui. Ainda se acham muito superiores. Também... Vem gente do mundo inteiro para cá e fica babando por eles...
Mas, como a vida é cheia de mistérios, ontem tive uma ótima surpresa. A dona da casa, Marion, estava com visita, e uma das filhas de uma sua amiga que passou dois dias aqui, veio buscar a mãe e, como a moça é professora de crianças, conversamos, e ela se dispôs a me pôr em contato com professores e me disse que posso enviar-lhes todas as questões que eu tiver.
Ufa! É muito difícil conseguir que eles falem por aqui! Quando fiz o curso em Londres, no CLPE, tentei levantar algumas questões com os professores primários, mas vi que estavam meio fechados.
Isso tudo para dizer que a má vontade das pessoas fecha inúmeras portas. Eles me cobram caro para poder entrar e sair daquela Faculdade todos os dias e aquilo que eu mais precisava encontrei dentro da minha própria casa...
Cambridge é uma faculdade elitista e pouco criativa, embora o mundo pense que eles são o máximo. Eles são bons de marketing, talvez!!! Mas deixe eles pensando que são os bons. A Unicamp está cheia de gente assim. A USP, idem.Tem gente esquisita demais no mundo, né?
A melhor forma de se ver o mundo como ele realmente é, é chegando bem perto dele. O risco é o de ser cuspido dos lugares, especialmente quando não dançamos a mesma música que a maioria ou não gostamos muito das encenações.
Como diz o Caetano Veloso: "De perto ninguém é normal". E, com raras exceções, o mundo acadêmico é um dos lugares menos propícios ao desabrochar da criatividade e de relações amigáveis. Há egos inflados demais e tenho tido o cuidado de não estar muito próximo para não correr o risco de ser atingida pelas faíscas num momento de explosão - desses egos...
Até!
Rosane.
Cambridge, 17 de junho de 2012.
Criaram aqui em Cambridge, há uns anos,
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