terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Eu sou da América do Sul...

Caro leitor,

Vida de estudante em país que não é o nosso é sempre uma novidade.

Ontem à noite fui acompanhar um dos filhos da família com quem moro, em Cambridge, que tinha sofrido um acidente dias atrás, e, como a dor não passava, ele decidiu procurar um médico no principal hospital aqui da cidade, chamado Addenbrooke´s.

O serviço de saúde inglês, mantido pelo Estado, é o NHS (National Health Service). Lembro-me de que há alguns meses, a dona da casa onde moro elogiou o serviço e me disse que sempre que precisava, tinha atendimento. Mas as coisas estão mudando rapidamente por aqui e o Parlamento está votando mudanças bruscas no sistema, o que tem incomodado várias entidades e deixado a população preocupada.

A dona da casa onde moro teve uma audiência, no mês passado, aqui em Cambridge, com um político poderoso, ligado à área de saúde, para reclamar, em nome das pessoas portadoras de deficiência física, que estão perdendo vários direitos devido ao corte de despesas públicas. Para variar, ele fez promessas, mas ela se diz incrédula.

Eu e meu colega chegamos por volta das sete da noite ao hospital. Esperamos e ele foi atendido pela doutora. Duas horas depois, ele foi fazer o raio-x. Meia hora depois, ele foi chamado pela médica. Sei que gastamos umas três horas. Ele achava que passaríamos a noite por lá, mas acho que tivemos sorte. Quando ele reclamava da espera, eu lhe dizia: "Se fosse no Brasil, você esperaria umas doze horas ou nem receberia atendimento".

A foto acima está na página atual da NHS e, por ironia, eles a puseram no site para falar sobre os cuidados com os pés. E, ontem, o que eu mais vi no serviço de emergência do hospital foi gente com o pé ou a perna estropiados - como o meu colega -, pessoas de todas as idades. Tinha hora que eu até ria, porque era engraçado, pois parecia o thriller do Michael Jackson (esse é meu humor negro inglês que está aflorando...).

Enfim, tudo isso é para dizer que os estropiados do Primeiro ou do Terceiro Mundo estão todos no mesmo barco. A diferença é que no Primeiro Mundo há um pouco mais de seriedade, embora na emergência do Primeiro Mundo vêem-se coisas muito parecidas. Aliás, se vê de tudo. Ontem, a emergência do hospital estava lotada. E olha que Cambridge é uma cidade pequena.

No mais, é isso. Se você não tiver dinheiro, esteja onde estiver, para pagar pelo plano de saúde privado, estará em maus lençóis. E, mesmo tendo as unimeds da vida, tem que rezar muito para, quando precisar dela, conseguir atendimento. Porque, no Terceiro Mundo, nem as iniciativas públicas nem as privadas têm muito escrúpulo. Aliás, nem têm.

Mudando o rumo da prosa...

A vida é assim. Mas poderia ser bem diferente. O Primeiro Mundo não tem nada de mais. A Europa é bonita, mas falta vida. Tem hora que acho que a Europa é apenas um grande caixote e dentro dele há pequenas caixinhas onde as pessoas vivem. A arquitetura de várias cidades é bem parecida. É como se fossem caixas onde a vida acontece. Ou não, visto que é grande o índice de suicídio por aqui.

Acho que a gente reclama, reclama, mas a América do Sul é bem mais divertida. Isso não significa que viver fora não seja legal. Se eu for convidada para dar aula em Harvard, irei correndo, claro, mas não porque a América lá de cima seja melhor do que a nossa, lá embaixo. É só uma questão de oportunidade. Ou de aventura.

Até!

Rosane

Cambridge, 21 de fevereiro de 2012.


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