segunda-feira, 5 de março de 2012

"Eles" entendem (?!)



Caro leitor,

Aqui na ilha, nesta segunda-feira, ao meio-dia e 31, faz muito frio. O corpo enrijece, mesmo dentro do ambiente aquecido.

Mas o que mais me assusta é a frieza do mundo em geral. Será que eu também sou fria e não me dou conta? Será que eu espero do mundo mais e o mundo espera de mim mais do que um pode realmente dar ao outro?

Por mais que eu tente compreender o mundo e as pessoas, ainda fica muita coisa incompreendida. Definitivamente, estou nesse mundo acadêmico por mero acaso. Talvez para aprender a não ser fria, para aprender sobre afeto, ironicamente num lugar onde o afeto é uma peça raríssima de se encontrar.

Assusta-me como somos educados, educados não, treinados, para um tipo de vida em sociedade em que o sentir não é permitido. Tenho achado isso trágico e muita coisa que antes eu não compreendia fica mais clara agora. Tenho tido mil e um insights ultimamente. Isso é maravilhoso. Antes eu demorava demais para ter insights.

Por isso o valor da utopia. É possível, sim, ter insights e acreditar em uma sociedade mais humana e mais justa, mesmo vivendo em sociedades nada humanas e nada justas e nada utópicas e nada afetuosas. Mas acho que o papel da educação é resgatar essas coisas.

(Um segredo: quando vi que o José Serra está crescendo nas pesquisas em São Paulo, me deu uma tristeza. Eles vão mesmo acabar com São Paulo, porque "eles" sabem como chegar ao poder, "eles" sabem como agir para evitar que se tenha educação pública em São Paulo. São Paulo é "deles"!)

Quero ler todos, mas todos mesmo, os livros de Paulo Freire. Deve haver esperança de relações e de um mundo melhor sempre. Fuçando aqui, por acaso, encontrei um poema de Clarice Lispector. Clarice era lindíssima, mas escolhi esta foto de uma Clarice envelhecida, talvez da época em que já estava com câncer, não sei.

Nesse mundo em que a beleza e a juventude são tão importantes, ao mesmo tempo as conversas, os assuntos, são tão pobres e embotados. Falta conteúdo, especialmente nas universidades, lugares perfeitos para a reprodução das idéias, as citações, os artigos chatos e que quase sempre não levam a nada, mas engordam currículos por aí.

Aqui a bela Clarice:

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

(Clarice Lispector)

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