domingo, 4 de março de 2012

O sentido da vida


Leitor,

Chove nesta manhã de domingo, em Cambridge. Aqui as chuvas são sempre muito poucas e a Inglaterra tem enfrentado uma seca preocupante, que tem até aparecido nos grandes jornais impressos.

Chamou-me a atenção, hoje, quando abri o The Guardian, on line, a matéria sobre uma mãe que, há um ano, perdeu a filha adolescente, porque a garota misturou a droga ketamina - ou cetamina - e álcool.

Eu nunca tinha ouvido falar nessa droga. Pensei até que "ketamine" fosse a palavra inglesa para anfetamina, mas, consultando meu amigo "Google", que tem resposta para tudo (????), ele me disse que é um analgésico com efeito psicodélico.

A mãe agora está lutando para que o tema drogas faça parte do National Curriculum, ou o currículo nacional escolar, que define as estratégias de atuação das escolas. Contudo, o governo tem feito o contrário, sem se aprofundar muito. Recentemente, o primeiro-ministro, James Cameron, um carreirista sem tamanho, anunciou que o preço das bebidas vai aumentar para evitar que os jovens bebam além da conta, o que gerou críticas, por ser algo apenas prático.

Mas este texto agora, nessa manhã de chuvisco na ilha inglesa, é para deixar umas perguntas ao vento, perguntas que tenho me feito já há um bom tempo. O problema das drogas também é sério no Brasil. E, lendo sobre mais uma mãe que perdeu a filha, fiquei pensando por que a sociedade, em geral, sempre leva a questão para os fatores externos. Ou seja, o problema é sempre das drogas, do vendedor de drogas, do governo que não controla, que não educa, o problema é do amigo, ou da amiga, que batem na porta da casa e chamam os filhos para as baladas, as raves da vida. O problema está sempre fora, fora, fora, nunca dentro.

E ficam para mim umas perguntas:

POR QUE OS JOVENS ESTÃO TÃO INTERESSADOS NAS DROGAS?

QUEM SÃO OS PAIS DESSES JOVENS?

ESSES PAIS ESTÃO PRESENTES?

ESTÃO AUSENTES?

E, QUANDO PRESENTES, ESTÃO P-R-E-S-E-N-T-E-S MESMO?

EXISTE AFETO NESSAS FAMÍLIAS?

O QUE ESSES GAROTOS E GAROTAS QUEREM NOS MOSTRAR?

Não quero, com isso, dizer que o problema seja dos pais. Mas, por outro lado, acho que é também! Há mil e um fatores envolvidos, até porque as drogas, que em um primeiro momento soam como divertidas, são viciantes, e seus efeitos fogem ao controle.

Contudo, eu ainda acredito que, com famílias realmente interessadas em seus filhos, as coisas poderiam ser um pouquinho melhores. Como criar filhos saudáveis se boa parte dos pais não é saudável, psicologicamente?

A cultura inglesa, por exemplo, reprime a expressão dos sentimentos mais do que a nossa cultura. Sentir é algo quase que proibido e bastante assustador. Aliás, não é proibido sentir, é proibido demonstrar o sentimento. Depois as pessoas não entendem, os pais não entendem, porque seus filhos buscam as drogas, ou as encontram por acaso, pela facilidade do mundo moderno, e por elas se encantam. Na minha opinião, esses meninos e meninas estão em busca de um sentido, daquilo que falta dentro, daquilo que talvez falte no mundo.

Eu acho que falta a verdadeira expressão do afeto, da humildade, da compreensão do outro. Estar no mundo e se sentir incompreendido é pesado, ainda mais quando se é jovem. Quantos pais beijam seu filhos? Tocam os filhos durante a vida? É mais fácil dar um tapa, bater, do que beijar. Ou, então, há aquilo de dizer "papai te ama", "mamãe te ama" e por aí vai.

Vira e mexe vejo pessoas, ao telefone, no supermercado, na rua, ou onde quer que seja, no Brasil, dizendo essas frases. Frases são apenas frases. Há um abismo imenso entre dizer "papai te ama", "mamãe te ama" e amar verdadeiramente. Afinal, o que é amar uma pessoa?

Não sei, como já disse, mas eu sou utópica, e acho que, com real interesse, ainda dá para salvar muitos jovens, muitos meninas e meninas, do abismo, para que eles vejam que o mundo, esse mundo aí, meio negro, ou que muita gente tenta torná-lo negro, e que às vezes é mesmo negro, é também cheio de poesia.

Aqui está a matéria sobre a garota que perdeu a vida:


Até!
Rosane.
Cambridge, 4 de março de 2012.

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