Navegar é preciso e não é preciso

Leitor,

Hoje, quinta-feira, apesar de frio, o sol está bem bonito. A primavera está chegando!!!

Acho que vai ser a estação mais bonita da Europa para mim, embora eu tenha gostado do inverno como nunca pensei que fosse gostar.

Na verdade, os turistas invadem as ruas da Europa no verão, mas eu não gosto do verão aqui. Não gosto de turista demais pelas ruas. Gosto de ver as cidades como são, nos seu dia-a-dia.

As flores amarelas começam a desabrochar. Acho que, com elas, minhas idéias também vão tomando forma e a tese - a minha e a do Pedro - vai sair um dia.

O amarelo da primavera me fez sentir vontade de voltar a Londres, para dar uma olhada mais uma vez e mais uma vez no pequeno quadro de Van Gogh, o meu preferido, "Os girassóis".

As fotos mostram um pouquinho da moderna biblioteca do Homerton College, que existe há mais de 150 anos, e de onde brotou a Faculdade de Educação onde estou agora.

O sol bate na janela e dá vontade de sair andando pelas ruas. Mas o sol aqui às vezes é traiçoeiro. Não é como o nosso, que sabemos que é quente. O sol aqui na ilha não chega aos pés do "nosso" sol.

Mas se eu quero deixar a ilha? Huummm... É claro que não. Às vezes é encantador e desafiador sair do chão, deixar as certezas de lado, esquecer um pouco da terra firme, arriscar-se a viver nas ilhas.

Afinal, alguém famoso já disse que nenhum homem é uma ilha. Mas às vezes acho que é sim, porque tanta gente reclama que o mundo está tão frio, que é difícil ser amigo, fazer amigos, relacionamentos, coisas assim!!!

E outro homem ainda mais famoso disse que navegar é preciso e que viver não é preciso. Que na vida não há nenhuma precisão matemática, como há na navegação. Não há bússolas para direcionar o caminho interior, como há nos navios. A existência é um caminho aberto. E, como disse Paulo Freire, é caminhando que se faz o caminho.

Eu gosto de caminhar na ilha, porque sei que, a qualquer momento, posso voltar para terra firme.

Até!

Rosane.

Cambridge, 8 de março de 2012.