terça-feira, 13 de março de 2012

A nossa vida é nascer e florescer


Caro leitor,

Está muito, muito frio. No domingo saiu um sol meio quente, mas a temperatura só caiu. E não é porque eu sinto mais frio que os demais não.

Até os ingleses reclamam, os europeus que estão aqui reclamam, porque parece que depois de meses e meses de frio, o corpo começa a ficar esgotado.

Mas, a vida continua, enquanto continua.

(Tenho várias fotos lindas de Londres, no sábado, que vou pôr aqui no blog).

Agora a passagem é bem rápida. Apenas para mencionar que, ontem, participei de uma palestra interessante aqui, em que um professor da Universidade da Islândia, Kristjan Kristjansson, falou sobre "Positive psychology and positive education: Old wine in new bottles?"

Fui à palestra porque gosto de participar, na Universidade de Cambridge, de todas as palestras, eventos, ou seja lá o que for, que acho que podem me trazer algum tipo de informação nova, de vivência nova. E porque defendo a teoria de que quem está na chuva é para se molhar. Na pior das hipóteses, quando não é possível extrair nada da palestra, pelo menos dá para aprimorar o inglês e aprender sobre os hábitos ingleses e sobre como funciona a Universidade.

No mais, o grupo que participou da palestra era pequeno, mas interessado. E uma das coisas que surgiram mais de uma vez na apresentação do professor foi a idéia de que as escolas não são o lugar mais apropriado para que os estudantes floresçam. Perguntei-lhe o que ele achava disso, mas acho que ele foi meio evasivo. Um inglês começou a fazer umas perguntas bem pertinentes, mas me parecia meio insatisfeito com as respostas.

O palestrante até parecia estar bem-intencionado, mas muito preso às teorias para explicar aquilo que talvez ainda não seja explicável. Ou, por que não dizer, simplesmente: "Sinto muito, mas acho que não tenho respostas para as suas perguntas". Ou: "Parece-me que você não está satisfeito com as minhas respostas, não é?, pois talvez eu não saiba mesmo como respondê-las".

Mas, enfim, o mundo é feito de vaidades. E aquele palestrante parecia estar inseguro. Saí sem compreender ao certo suas idéias. Muita teoria e talvez um certo receio de ser mais claro quanto ao que ele realmente pensava sobre o assunto. Talvez por estar em Cambridge... As pessoas em geral morrem de medo de Cambridge... Mas, apesar dos pesares, achei que o palestrante, um cara ainda jovial, de seus quarenta e poucos, tentava quebrar o protocolo e ser um pouco mais solto.

Obs.: A foto acima é de uma flor que acabo de descobrir e que se chama "Flor canela de ema", que nasce no cerrado. Aqui as flores brotam e espero pôr umas bem bonitas no site. Espero... Porque ando com muita preguiça de continuar o blog. O meio acadêmico tem matado o meu desejo de escrever. Aliás, o meio acadêmico mata tantas coisas sem nem saber...

Falta poesia na academia (e só aqui é possível rimar, porque na academia também não o é). O meio acadêmico, na minha visão de pesquisadora, só é bom se estivermos com um pé dentro e outro fora, para poder - ou tentar - vê-lo como ele é. É sem graça, mas talvez seja necessário para alguma coisa. Muitas vezes, só para alimentar vaidades. Poucas - e raras vezes - para realmente transformar a sociedade.

Hoje, na metade da manhã, eu estava na fila da lanchonete a olhar os estudantes da graduação, bem jovens, falantes, aparentemente alegres, que representam a nata inglesa. E me perguntava: onde estão os negros, os pobres? E seus direitos de estudar, onde estão? Ah, mas o mundo é cada vez mais para quem tem dinheiro. Quem não tem... tem que lutar, lutar por um mundo melhor, ou desistir, se conformar, como, infelizmente, a maioria faz.

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O título da postagem de hoje é uma referência a um samba de que gosto muito, da Velha Guarda da Portela, "Nascer e florescer".
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No fim das contas, minha passagem por aqui no blog foi longa. Vai ver que a academia provocou estragos em mim, mas ainda há algo a desabrochar...
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Até!
Rosane
Cambridge, 13 de março de 2012.


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