quarta-feira, 28 de março de 2012

Protesto de estudantes contra expulsão


Caro leitor,

Já faz um tempo que gostaria de escrever sobre a expulsão, por dois anos e meio, de um estudante aqui da Universidade de Cambridge, o que gerou, dia 16 de março, um protesto de centenas de alunos e funcionários contra a punição, aplicada pela Corte de Disciplina.

Já faz um tempo que, pela primeira vez na história, estudantes britânicos começaram a se manifestar contra as altas taxas cobradas para estudar por aqui. Eles pagam uma fortuna e, nesse caso, só quem têm grana ou consegue alguma bolsa, consegue ficar e se formar.

O garoto leu, em novembro de 2011, o que eles chamaram de poema, mas que é um texto em tom meio agressivo, seguido de um coro formado por outros tantos estudantes, em que mostram a David Willets, Ministro para as Universidadades e Ciência -, que interrompeu sua fala e se retirou - como eles estão chateados e indignados com a maneira como Cambridge tem tratado seus alunos: como consumidores, como "clientes".


Para mim, que não sabia do ocorrido, e que, infelizmente, também não vi aqui na Faculdade nenhum aviso sobre a manifestação nas ruas, no sábado, 16 de março, - provavelmente não avisaram aqui dentro de propósito, para não incitar mais pessoas a participarem -, soa-me como algo solidário, porque desde que cheguei a Cambridge fico impressionada - e também indignada - com a rigidez e o conservadorismo desta Faculdade de Educação e da Universidade como um todo. E se na Educação é assim, imagina nos demais cursos e departamentos?

O governo inglês tenta tapar o sol com a peneira. Acho que a sorte dele é que aqui não há tanto sol e, portanto, fica mais fácil fazer de conta que vai tudo bem. Sinto-me em paz por ter tido e continuar tendo as minhas milhares de inquietações sobre a Universidade de Cambridge. Só que aqui não se encontra pessoas para falar sobre isso. Elas sempre se calam, sejam elas quem forem. É preciso manter a aparência de que tudo funciona bem e de que todos estão muito felizes. No Brasil, a gente sempre acha alguém também indignado. Aqui não. A polidez é a regra.

Chega a ser engraçado. Já tentei, inúmeras vezes, fazer comentários mais ácidos sobre a rainha, os políticos, mas a conversa nunca vai muito longe. O que me encabula é que eles não têm vivido num mar de rosas (tem hífen?). Já estou tomando uma birra tão grande desse negócio de hífen depois das últimas mudanças da língua "brasileira". Por mim, acabava com tudo e se criaria uma outra língua, que dificultasse o aprendizado da corrupção.

Aliás, chega uma hora em que, vivendo em outro país, a gente descobre que não fala a língua deles perfeitamente (mas que falará em breve!), não fala mais a nossa perfeitamente (será que um dia já a falamos?) e começa a dar vontade de aprender outras e outras, ou de desaprender a falar, por um tempo, porque até hoje não conheci nada mais difícil do que a comunicação.

(só a corrupção...)

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Voltando ao tema inicial...

A Universidade de Cambridge, lindíssima, é também uma caixinha preta, como aquelas dos aviões. Só poucas pessoas, pouquíssimas, sabem do conteúdo. E eles se vangloriam de estar entre os melhores do mundo. Sim! São poderosos. Quem vê as universidades brasileiras, com milhões de problemas, e vê o complexo aqui, fica encabulado. É muito dinheiro. É a elite investindo caro para manter seus filhos e netos na linha de frente.

Os demais ingleses? Aqueles que não estudaram? Aqueles que representam a maioria? Ah, esses levam suas vidinhas. Trabalham, quando encontram trabalho, procriam, quando encontram companhia, descasam, quando criam coragem de descasar, e bebem, bebem, bebem... E assim a ilha segue, poderosa, causando mil sensações ao redor do planeta. A ilha é bonita. Os políticos aqui, como os nossos, é que nem sempre o são.

Aqui está o texto sobre a manifestação: http://www.labournet.net/other/1203/cambridge2.html

Até!
Rosane.
Cambridge, 28 de março de 2012.


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