segunda-feira, 26 de março de 2012

O vôo - com hífen - das idéias - com hífen


Caro leitor,

Fui pedalar, no fim do dia, num caminho que liga a região onde moro a Trumpington, porque fazia uma tarde bonita, e é um caminho tranqüilo, longe do movimento das ruas.

Agora demora a escurecer, porque, embora seja o começo da primavera, os ingleses já consideram que hoje seja o primeiro dia do horário de verão e, por isso, adiantaram os relógios em uma hora.

E, falando em relógios, a casa onde moro com a família inglesa tem vários e pelo menos dois deles são barulhentos. Às vezes acho que há uma pessoa se movendo pela casa, mas são os relógios. Só que o marido e a esposa viajaram e todos os relógios pararam de funcionar. Por um lado, acho bom, porque está tudo mais silencioso. Mas, como eles voltarão na próxima quinta, as horas também voltarão a ser, religiosamente, marcadas.

Enquanto pedalava, vi uma cena bonita, de pássaros enormes que voavam em bando, frenéticos, em completa desordem. No chão, outros grupos de diferentes espécies, também se integravam, mas discretos. O vôo desconexo me fez identificar-me de imediato com aqueles bichos voadores, porque pareciam metaforizar, talvez, o movimento que nós humanos repetidamente fazemos, de existir, de estar, de tentar ser no mundo.

Mas, por alguma razão, aqueles pássaros ávidos por uma direção (ou não) me fizeram pensar na dialética, na tese, na antítese, na síntese. Provavelmente porque me encontro em um momento de elaboração das idéias relacionadas à pesquisa e, creio que mais que os pássaros, eu queira encontrar um caminho por onde fluam as melhores idéias.

Segui, pedalando por muito tempo, e, quando voltei, os pássaros do céu não mais estavam. Seguiram seu rumo. Eu continuo a pensar na dialética. Ainda não encontrei o caminho que flui. Acho que ele deve estar mais ao alcance dos meus olhos do que imagino. Ou vai ver que ele está mais ao alcance do coração, não sei. Não acredito na ciência fria. Quando a vejo, sinto pena.

Os pássaros têm os corações quentes. São calmos. São frenéticos. São bonitos os pássaros, mesmo quando não são bonitos. Mas quase sempre eles são.

Obs.: A foto acima é de uma pintura de Van Gogh, em que aparecem os corvos.

Até!
Rosane.
Cambridge, 26 de março de 2012.

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