segunda-feira, 26 de março de 2012

Para onde pende a balança?







Caro leitor,

O horário de verão começou oficialmente hoje na Inglaterra e, apesar de ainda fazer frio, o sol tem aparecido mais e mais e sua luz, no começo da tarde, está bem quente.

Estamos de férias, embora a Faculdade não feche as portas, mas as aulas, palestras, enfim, as atividades rotineiras só voltarão no fim de abril.

No fim de semana teremos aqui, no Homerton College/Faculdade de Educação, a conferência internacional "The child and the book", aquela em que meu trabalho não foi aceito, porque dizem que a minha pesquisa é empírica. Uma garota de vinte e poucos anos assim classificou minha pesquisa, porque aqui eles têm explicação para tudo.

Mas, em verdade, a conferência foi organizada por algumas estudantes do grupo de pesquisa ao qual pertenço, e TODAS elas vão apresentar seus trabalhos. As vagas que sobraram serão preenchidas por pesquisadores do exterior, que discorrem sobre aspectos da filosofia na literatura infantil.

Cambridge promove eventos o tempo todo. Parece que eles têm urgência em mostrar que produzem, produzem, produzem... Li, na semana passada, que a cada 3.2 segundos, um inglês é diagnosticado com demência. Só não compreendo por que a Elizabeth está cada vez mais rica e não fica demente!

Na semana passada, quinta-feira, fui ao Robinson College assistir a uma palestra da ex-professora de Cambridge, que leciona em Oxford, Carol Robinson, e que é uma renomada e premiada pesquisadora e química no Reino Unido, integrante da Royal Society. O convite foi feito a ela para que falasse da experiência de ser mulher, mãe e cientista, pois ela é defensora da mulher na pesquisa.

Ela investiga sobre espectometria de massa e sobre proteínas, mas parecia estar muito nervosa na palestra e, pelo menos para mim, não foi o que eu esperava, até porque o tema da palestra "Finding the right balance", ficou vago. Por alguma razão, ela estava bloqueada. Mas disse umas coisas interessantes, rapidamente, sobre a importância de se trabalhar em equipe, de ser flexível, além de realçar que o fato de a ciência ser feita de erros e acertos é um estímulo para ela. Enfim, ela parecia não estar nada à vontade em Cambridge.

Mas é muito difícil mesmo sentir-se à vontade em Cambridge. A formalidade e o conservadorismo matam a fluidez da vida nesse meio acadêmico aqui. É preciso encontrar a fluidez nas entrelinhas, naqueles miléssimos de segundos entre a inspiração e a expiração.

Obs.: Quanto mais o tempo passa, mais estranho o Português. É ruim a sensação de saber que, uma vez que entramos em contato com outras línguas, a nossa nunca mais será a mesma. Às vezes é bom. Às vezes é ruim. Hoje estou achando ruim. Acho que preciso encontrar o equilíbrio na minha balança. Tenho dado importância demais à ciência.

Até!
Rosane.
Cambridge, 26 de março de 2012.


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