quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

As metamorfoses


Olá, leitor!

Para não fugir à regra inglesa, vou começar este texto falando sobre um tema recorrente: o tempo. Não a passagem do tempo, porque parece que os ingleses fogem dessas temáticas - dinheiro, morte, depressão, decadência - como o diabo foge da cruz.

Vou falar do tempo corriqueiro.

O tempo aqui muda constantemente. Em apenas uma hora, contada no relógio, é possível passar pelas mais impensadas mudanças de temperatura. Hoje estava frio pela manhã, em Cambridge, depois saiu um solzinho, depois começou a chover, a ventar muito, o que dificulta andar pelas ruas, depois veio o sol de novo, o frio, e agora, às 14h21, há ainda uma pequena luz do sol no céu, que dá para ver daqui da janela do elegante e novíssimo prédio da Faculdade de Educação de Cambridge, onde fica a minha sala.

Na verdade, a sala não é só minha. É para ser dividida com mais quatro Visiting Scholars, só que é muito raro encontrar muitos estudantes por aqui, por várias razões. As pessoas aqui não se integram. Nos primeiros meses em Cambridge, isso me incomodou muito, porque eu achava que era um descaso com os Visiting Scholars, da parte da Faculdade, mas depois percebi que a falta de integração acontece também entre os próprios estudantes da pós-graduação. Alguma semelhança com a realidade da nossa pós-graduação, no Brasil, garanto que não será mera coincidência! Toda vez que há reunião dos estudantes de pós-graduação na Faculdade de Educação da Unicamp fico impressionada como tudo é difícil, como não há empatia, como a comunicação não flui, como as pessoas fogem ao debate. Será por quê?

Desde que cheguei tentei contato com vários colegas, Visiting Scholars, e foi possível conhecer alguns deles mais de perto, todos eles chineses. Eles são extremamente fechados, evitam tocar em qualquer polêmica, têm muita dificuldade, em geral, com a língua inglesa, mas com muito custo e dedicação se consegue uma certa aproximação. Todos eles já voltaram para os seus países e cá estou eu, sozinha na bonita sala, e confesso que me sinto feliz por isso. O silêncio às vezes é um verdadeiro bálsamo.

Voltando ao tempo, vim para a Faculdade na metade da manhã e decidi ir ao Fitzwilliam Museum (http://www.fitzmuseum.cam.ac.uk/) para ver com calma a pequena exposição das obras do holandês http://www.fitzmuseum.cam.ac.uk/whatson/exhibitions/article.html?2793 Vermeer (http://www.fitzmuseum.cam.ac.uk/whatson/exhibitions/article.html?2793). Já estive lá três vezes e minha esperança hoje era encontrar o lugar tranqüilo para apreciar os pequenos quadros e alugar um fone de ouvido com áudio para ouvir as explicações. Mera ilusão!

Quando cheguei, depois de enfrentar uma charmosa chuva e um forte vento pela Hills Road, vi que havia uma fila, mas pensei que fosse uma filinha. Resolvi ir ao banheiro, ou toilet, para ficar mais chique. Também havia uma fila, pequena, mas havia. Pensei: "Vou tomar um café e depois enfrentarei aquela fila para entrar na exibição. Mas havia uma fila enorme para o café. Aí decidi ir para a fila que dá acesso à sala de exibição. Quando me dei conta, vi que era gigantesca e levaria uma hora ou mais nela. Isso para entrar nas pequenas salas de exibição e enfrentar mais filas para tentar ver os minúsculos quadros.

A exposição terminará dia 15 de janeiro e tentarei voltar lá pela quarta vez. É que há um quadro em especial que me interessa, pois tem a ver com a temática da minha (nossa, pois é também do meu orientador) tese. Mas confesso que acho que as pessoas em geral aqui na Europa, e isso inclui os turistas, não gostam mais de exposições nem de diversão. O xis da questão é estar nas filas. Eles adoram ser massa!

Acabou que não falei nada das metamorfoses...

Obs.: A imagem acima é "The lacemaker", um dos quadros de Vermeer.

Até logo!
Rosane.
Cambridge, 12 de janeiro de 2012.

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