sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Pra que serve a ciência?

Caríssimo leitor,

Tenho a sensação cada vez mais clara de que você não existe. O sentimento é, às vezes, de frustração e, noutras vezes, de profunda alegria, por mais paradoxal que pareça. É frustrante porque você não lê o que escrevo e é animador porque, sem leitores, posso escrever o que eu bem entender.

A professora Maria Nikolajeva me perguntou, esta semana, se eu participaria da conferência, em março, sobre o livro e a leitura, aqui no Homerton. Eu disse que sim e falei que, infelizmente, meu trabalho tinha sido rejeitado.

Resolvi enviar um e-mail para a Erin Spring, que é uma das organizadoras, e para quem os abstracts foram enviados, apenas para dizer que eu gostaria de saber mais detalhes, o porquê da não-aceitação, pois assim, da próxima vez, eu faria um abstract diferente. Ela me respondeu, mas disse que eles não dão mesmo detalhes.

A professora Maria vira e mexe escreve um texto no blog que ela tem, falando sobre os nãos que ela ouve. Isso é legal, pois mostra-nos os dois lados da moeda. Mas é tão raro encontrar alguém que, como ela, admite que também recebe nãos, e que recebe sins também, o que a torna tão respeitada em sua área de pesquisa.

Mas sinto-me frustrada por não ser ouvida como eu gostaria, por saber que ninguém mais (com exceção da Maria) quer saber do que se passa no meu País. Eu queria trocar idéias, eu queria me comunicar, eu queria que essas faculdades famosas não fossem tão fechadas. Mas são. Mas eu não desisto. Onde é possível, eu exponho as idéias. Eu ainda acredito que é possível criar pontes.

A Maria tem sido uma ponte. Ainda não consegui elaborar essa minha frustração com Cambridge para dizer a ela da maneira como eu gostaria. Isso não significa que eu não esteja gostando. A experiência tem sido magnífica.

Eu só não sei bem ainda para o que mesmo serve a ciência, se ela nem sempre pode ser comunicada. Acho que o silêncio tem me incomodado. Querendo ou não, Cambridge amedronta. Mas me prometi que não vou sucumbir a isso!

Se ainda não sucumbi nesses 11 anos de Unicamp, que é extremamente rígida, não é aqui que sucumbirei. Como já disse, Cambridge é muito, mas muito mais afável do que o mundo acadêmico de São Paulo. Fica a seu cargo imaginar, então, como deve ser a Unicamp...

Ah, preciso juntar energias para comentar sobre minha banca de qualificação. Vou tentar seguir o exemplo da Maria e falar também das coisas que nem sempre são as melhores que poderiam acontecer em nossas vidas.

Até!
Rosane.
Cambridge, 27 de janeiro de 2012.

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