Só há pouco me dei conta de que hoje é sexta-feira, 13. Estou de passagem rápida pelo blog, pois já é tarde.
Hoje nevou pela manhã, em Cambridge, mas nada demais, só o suficiente para cobrir os carros. Agora à noite os carros já estão sendo decorados, novamente, por uma leve camada de neve. O frio não chega a ser desesperador, desde que você se proteja o máximo que puder. É um frio cortante e, mesmo com aquecimento dentro de casa, dá bem para senti-lo.
Fui fazer um curso, em Londres, no Center of Literacy for Primary Education (CLPE), que fica na Webber Street, uma rua não tão longe da ponte de Westminster, onde está o Big Ben. Dá para fazer tudo caminhando, pelo menos para mim, que gosto de caminhar. Esse centro treina professores e orienta pais, estudantes e famílias há mais de 40 anos na área de leitura. Mas essa temática ficará para um outro blog. Há muito o que falar, ah se há!
Peguei o ônibus para Londres, na avenida Park Side, às cinco e meia da matina, em Cambridge. Ir de ônibus fica mais barato que ir de trem, embora demore bem mais. Estava bem frio, como eu já disse, mas a minha caminhada me lembrou as vezes em que eu era adolescente, nas procissões da Festa de São Benedito, lá em Nerópolis, Goiás, perto de Goiânia, entre julho e agosto. Acho que a maioria dos brasileiros nunca ouviu falar nessa cidade. Ou será que ouviu? O nome não é uma homenagem ao maluco do Nero, de Roma, mas a um político, de nome Nero Macedo.
A sensação de lembrar as frias manhãs nas procissões pela cidade foi bem legal e não é a primeira vez que acontece. Ao chegar em Londres, vi uma cidade que não tinha visto antes e confesso que foi a primeira vez que Londres realmente me tocou o coração, deixou de ser "fria". Eram oito e pouco da manhã e pude ver a cidade sem as centenas de turistas, um privilégio raro de se experienciar. As pessoas que circulavam pelas ruas, especialmente na área movimentada próxima aos prédios históricos, como o Big Ben, a Abadia de Westminster e o prédio do Parlamento, por exemplo, eram pessoas comuns.
Eram rostos que seguiam seus destinos. Não olhavam para o lado. Seguiam a pé, de bicicleta, de carro, de ônibus, em direção a não sei quê. Motos não se vêem pelas ruas de Londres. Naquele momento era possível ver o homem, com cara de estrangeiro residente em Londres, que carregava o seu bebê, no carrinho, era a mulher que carregava a bolsa meio pesada, era cada um tão normal. Parecia que só eu insistia em admirar o Big Ben, pela sua exuberância.
Mas o de que mais gostei foi que todos os prédios daquela região, tão majestosos, pela primeira vez pareciam estar tão pequenos. Grandes ficaram as pessoas comuns. Os prédios sumiam em meio à pressa da vida, das obrigações, talvez dos sonhos para a sexta-feira à noite.
O mundo, que parece tão grande, às vezes se torna tão cabível na palma da mão. As memórias, que às vezes parecem tão minúsculas, tornam-se tão grandes. A vida, que parece ser tão breve, sem mais nem menos se torna tão majestosa. Aquilo, que antes não era visto, do nada se mostra aos nossos olhos, nos salva da cegueira.
Segui, caminhando, em direção ao curso. Não tirava os olhos do relógio. Na foto, acima, tirada no fim de tarde, ele marca quatro horas. Tirei a foto no exato momento em que ele badalava as horas. É legal ouvi-lo; poético. Deve ser tão banal para quem mora em Londres!
Por que as coisas simples da vida às vezes acabam se perdendo diante da nossa correria? Quem somos nós nessa caminhada? Quantas vezes nos damos conta de que mudamos? De que passamos? Ou, talvez, essas coisas simples não se percam. Estou aqui, mas também ainda estou lá, caminhando nas procissões da festa de São Benedito, como se tivesse voltado no tempo. Mas sei que não voltei no tempo. É o tempo que está permanente em mim. Somos dois, somos um. Eu passo, ele fica. Que inveja!
Mas agora não é hora de querer explicar nada. Só é hora, quiçá, de sentir. E de tentar dormir. Vou fazer de conta que também não passo. Que horas são mesmo?
Obrigada, leitor, por "me ler". Até breve!
Rosane.
Cambridge, 13 de janeiro de 2012.
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