segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Os bruzundangas - Parte 2

Leitor,

Talvez este texto não lhe cause uma boa sensação, porque também em mim não causa. Ao fazer o curso sobre leitura - ou uma espécie de alfabetização para a leitura -, em Londres, as questões que eu já trazia comigo se juntaram a outras tantas e aqui estão.

Há pessoas que pesquisam sobre um novo inseto, uma nova ou velha bactéria que estava aí, mas ninguém a conhecia bem, e isso representa um avanço para a ciência. Na minha pesquisa de doutorado, não pesquiso nada novo. Infelizmente, o problema tem a idade do Brasil e acho que nasceu até antes disso. Veio nos navios, aqueles do "descubrimento".

A questão da educação e do não acesso a ela é um problema inaceitável no Brasil. Está lá, no Estatuto da Criança e do Adolescente, para quem quiser ver:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Visitando escolas públicas de Campinas (SP) para desenvolver minha pesquisa de doutorado, sobre leitura e bibliotecas escolares, me cortava o coração ver centenas de crianças e jovens naqueles prédios, jogadas na vastidão solitária de seus próprios destinos, que mais se parecem com um presídio. Muitas delas passavam mal, de fome! Imagina, então, falar de leitura num contexto desses, em que falta o mínimo? Seus futuros vão se perdendo ali, gota a gota, e o que fazem os políticos? O que faz o PSDB?

Que me desculpem aqueles professores das escolas públicas brasileiras que se dedicam com afinco para mudar a situação, que ainda acreditam na escola pública, mas a escola pública é só uma espécie de faz-de-conta sem graça nenhuma. Não há mais poesia. Ela foi sugada a fórceps.

Será que aqueles prédios com cara de presídio já são moldados para que o estudante de hoje seja preparado para, amanhã, estar num presídio? Seria um caminho natural? Natural ou forjado?

Falar sobre isso me dá um nó na garganta. É o futuro do Brasil, lançado ao vento, no presente, com o mais profundo descaso. Eu, se presidente fosse desse País dos Bruzundangas, eu acabaria com a escola pública de vez. Eu criaria uma outra, onde os filhos dos pobres e da classe média baixa pudessem se tornar cidadãos críticos com direito a uma vida feliz.

Até!
Rosane.
Cambridge, 16 de janeiro de 2012.



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