segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O PNBE e seus meandros

Caro leitor,

Retomo aqui a temática da minha pesquisa. Se você ainda não leu nenhum dos textos, ou está sem a mínima paciência para isso, eu entendo. Sendo assim, vou repetir que pesquiso o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), do Ministério da Educação.

Todo ano são enviados milhares de livros de literatura às escolas públicas em todo o País e a realidade é uma só: esses livros não são lidos. Há escola em Campinas (SP) que guarda ainda em caixas os livros que foram enviados em 1998, quando chegou à escolas a primeira remessa do PNBE.

As razões são inúmeras: faltam bibliotecas; faltam pessoas que entendam de bibliotecas; há diretores que temem emprestar os livros aos alunos e os livros sumirem ou serem estragados; os professores em geral não gostam de ler ou dizem não ter tempo; tem professor que sequer sabe escrever, como, então, vai conseguir ler um livro e, AINDA POR CIMA, sugerir que seus alunos leiam? Há de tudo.

Nenhum pai ou mãe, em sã consciência, e que tem um poder aquisitivo um pouco melhor, deixaria seus filhos estudarem numa escola pública. Aqueles que matriculam seus filhos nessas tais escolas é porque a eles não lhes resta nenhuma outra alternativa. Mas, no fundo, a maioria sabe que o futuro está comprometido. Os estudantes também sabem. Ou, pelo menos, isso deve vir à tona, de tempos em tempos, em forma até de violência. E poderia ser diferente?

O PNBE é um excelente programa para o Governo Federal, especialmente para os poderosos ministros do MEC, que podem estufar o peito e dizer: "Nós enviamos os livros às escolas, e se eles não são lidos, não é problema nosso!". Ou seja, o problema, então, é dos governos estaduais? Mas esses também podem acusar que os prefeitos também deveriam se responsabilizar. Mas ainda dá para culpar os professores, os diretores de escola, os pais das crianças e dos jovens. Dá até para culpar o calor, que torna algumas pessoas mais lentas e, por isso, elas não lêem. E tem também a tevê, o computador, o celular, a TPM...

O PNBE também é um excelente filão para os editores. Huummmm! Esses travam uma verdadeira luta para que seus livros sejam aprovados nos editais do MEC. Uma vez vencida a licitação, é hora de comemorar, afinal, imagina vender livro para milhares de escolas num país do tamanho do Brasil? É para ficar feliz ou não?

A questão é que esse dinheiro é público, ou deveria ser. É seu, é meu, é nosso! Eu, se tivesse a oportunidade de tomar um chá com a presidenta Dilma Roussef - agora que moro na Inglaterra estou gostando mais de chá, embora café seja o meu preferido -, e ela me perguntasse sobre o que eu acho do PNBE, eu respiraria fundo e, como representante dos bruzundangas com quase título de doutorado, lhe diria, talvez em Inglês, para causar mais impacto, já que nós, da área de Humanas, não impactamos tanto com nosso conhecimento científico:

Cara presidenta, eu, como bruzundanga que sou, e como alguém que pôs mesmo os pés na escola pública - ao contrário do que fazem tantos renomados pesquisadores da Educação, em São Paulo, que nunca foram a uma escola pública sequer mas falam delas com galhardia -, eu lhe diria que seria um grande favor à nação acabar com o PNBE. De sobra, se puder, acabe também com a escola pública. Escolha um grupo de pessoas competentes, que realmente entendam de leitura, de educação e de escola pública, e dê-lhes um prazo para recriar a nova educação pública que se quer para o Brasil. Pode ser que vários políticos e editores e livreiros vão odiá-la, mas a população que realmente precisa da escola pública talvez vá amá-la e admirá-la pelo resto de suas vidas. Abaixo o PNBE! Viva a leitura!!!

Obs.: A presidente nunca vai me receber para um chá. Nesse País, muitas portas ainda estão trancadas, especialmente aquelas que guardam os livros do PNBE nas escolas públicas. Quem vai abri-las, um dia, para que o ar circule?

Até!
Rosane.
Cambridge, 16 de janeiro de 2012.




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