Hoje, sábado, está sendo um dia chuvoso, embora aqui, na Inglaterra, não tenha aquelas chuvas do Brasil não, aquelas que carregam as cidades. Aqui tem uma chuvinha discreta, mas venta muito. Agora à noite está ventando demais.
O problema é quando o vento nos pega no momento em que o avião está tentando pousar... Nem preciso falar. Quem tem medo de avião, bem o sabe: mãos geladas e a sensação de que "desta vez, já era".
Sempre que vejo que há um piloto lindo e sorridente dentro do avião, penso: "Este avião não vai cair. Hoje não é dia de um homem tão bonito morrer!". É uma psicologia meio barata, mas ajuda. Ajuda, também, ler o belo poema de Carlos Drummond de Andrade, "Morte no avião".
Mas falemos de vida. Em Londres há o movimento "Smile London":
E isso enquanto borbulham notícias de movimentos silenciosos (:) de ocupação de vários pontos de Londres. Assim a vida segue.
E, como vida e morte caminham juntas, e se completam, não resisti e aqui está o poema do Drummond, afinal, não é todo país que pode se gabar de ter tido um gênio desses, nascido em terras brasileiras. Peguei esse texto na internet, pois não estou com meu livro aqui. Espero que não esteja faltando nada.
Morte no avião
Carlos Drummond de Andrade
Acordo para a morte.
Barbeio-me, visto-me, calço-me. (...)
Tudo funciona como sempre.
Saio para a rua. Vou morrer.
Não morrerei agora. Um dia
inteiro se desata à minha frente. (...)
Visito o banco. (...)
Passo nos escritórios.(...)
Estou na cidade grande e sou um homem
na engrenagem. (...)
A fatura. A carta. Faço mil coisas
Que criarão outras mil, aqui, além, nos Estados Unidos.
Tenho pressa. Compro um jornal. É pressa
embora vá morrer. (...)
Comprometo-me ao extremo, combino encontros
a que nunca irei, pronuncio palavras vãs,
minto dizendo: até amanhã. Pois não haverá.
Subo uma escada. Curvo-me. Penetro
no interior da morte.
A morte dispôs poltronas para o conforto
de espera. Aqui se encontram
os que vão morrer e não sabem.
(...)golpe vibrado no ar, lâmina de vento
no pescoço, raio
choque estrondo fulguração
rolamos pulverizados
caio verticalmente e me transformo em notícia.
Até!
Carlos Drummond de Andrade
Acordo para a morte.
Barbeio-me, visto-me, calço-me. (...)
Tudo funciona como sempre.
Saio para a rua. Vou morrer.
Não morrerei agora. Um dia
inteiro se desata à minha frente. (...)
Visito o banco. (...)
Passo nos escritórios.(...)
Estou na cidade grande e sou um homem
na engrenagem. (...)
A fatura. A carta. Faço mil coisas
Que criarão outras mil, aqui, além, nos Estados Unidos.
Tenho pressa. Compro um jornal. É pressa
embora vá morrer. (...)
Comprometo-me ao extremo, combino encontros
a que nunca irei, pronuncio palavras vãs,
minto dizendo: até amanhã. Pois não haverá.
Subo uma escada. Curvo-me. Penetro
no interior da morte.
A morte dispôs poltronas para o conforto
de espera. Aqui se encontram
os que vão morrer e não sabem.
(...)golpe vibrado no ar, lâmina de vento
no pescoço, raio
choque estrondo fulguração
rolamos pulverizados
caio verticalmente e me transformo em notícia.
Até!
Rosane.
Cambridge, 21 de janeiro de 2012.
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