sábado, 14 de janeiro de 2012

Brazil é com "s" ou com "z"?


Leitor,

Seria redundante dizer que aqui continua muito frio, quase congelando.

Sabe, voltando de Londres, daquele curso, ontem, pensei em como a Inglaterra é avançada. Todo mundo aqui fala Inglês! Quando eu vejo uma criancinha se expressando tão bem, digo a mim mesma: "Tão pequenininha e já fala Inglês"! No Brasil a gente tem que gastar tanto dinheiro para aprender essa língua. E no Brasil tão pouca gente fala Português...

O CLPE (http://www.clpe.co.uk/) é um centro criado em 1972 e que promove a leitura, entre outras coisas. A primeira vez que fui visitá-lo, no ano passado, foi por sugestão de uma professora da Faculdade de Educação de Cambridge. Como aqui o Visiting Scholar não tem orientador, mas o que eles chamam de "host", desde que cheguei à Faculdade de Educação de Cambridge saí perguntando, porque sou humana e sinto a necessidade de trocar idéias com as pessoas, mas a mensagem foi bem clara: "Se vira" e, de preferência, não pergunte, não fale da sua pesquisa. Não fale! E isso não foi nas entrelinhas, foi na bucha mesmo, e dito por mais de uma pessoa. Contudo, é sempre possível encontrar pessoas receptivas, mesmo nesse lugar quase desumano chamado academia, e eu encontrei uma ou outra.

Ah, e um pequeno detalhe: embora a Universidade de Cambridge seja estatal, todos nós temos que pagar para nela estudar. Por isso, pela primeira vez, um tempo atrás, os estudantes do Reino Unido protestaram contra o alto custo da educação no País. A maioria desiste de fazer faculdade, pois não conseguiria pagar pelos estudos.

A reação que tive à recepção nada calorosa? Claro que chorei, fiquei triste, afinal, nada pior do que chegar a um lugar onde tudo é diferente, novo, e você não encontra a empatia que esperava encontrar. Mas nada melhor do que ter um orientador com quem se possa contar. Bastou um e-mail enviado a ele, para eu voltar ao meu centro e retomar o caminho da pesquisa, sem me deixar afundar nesses vieses obscuros das famosas e poderosas universidades.

Voltando ao CLPE e à questão da alfabetização e da leitura, depois que fiz a primeira visita ao lugar, e uma das funcionárias me recebeu com muita simpatia, até porque ela tem contato com profissionais da área de livro no Brasil, decidi fazer um curso lá. Tive que escolher um curso de apenas um dia - que na verdade são de apenas horas, não é o dia inteiro -, porque são bem carinhos.

Esse curso era voltado para professores primários do Reino Unido, que lidam com o que chamam de leitores "relutantes". A experiência foi muito boa, não exatamente pelo conteúdo do curso, mas por poder conversar com os professores primários, embora eles não gostem muito quando alguém lhes pergunta algo, como por exemplo, como está a educação no Reino Unido, sobre as condições de trabalho, sobre salários, perspectivas futuras, sobre o que eles chamam de National Curriculum, que lhes dita normas, enfim, é nas entrelinhas que vamos captando o que eles teimam em não dizer.

Mas havia um diretor de escola lá que tentava tocar um pouco nas feridas. Mas aqueles professores ali, em geral, pareciam não querer tocar muito nas feridas. Parece que a idéia é a de passar a imagem de que tudo está bem. Seria um mal do mundo moderno?

Na Faculdade de Educação de Cambridge, desrespeitando a sugestão inicial de não perguntar, de ficar mais na minha, é claro que eu pergunto e pergunto mesmo. Aliás, estou aqui, não devo nada ao governo Inglês, estou é pagando para estar aqui, graças à bolsa do governo brasileiro, e sou uma livre-pensante. Ou pelo menos tento achar que sou. Se não sou, que alguém me avise o mais rápido que puder, mas já adianto que vou continuar sendo aquilo que acho que sou, ou que estou podendo ser. Mas não sou inflexível.

Sei que estava eu lá, perguntando durante o curso, perguntando, perguntando, porque uma vez engolida a pílula falante, já era... Não dá para parar. Aí, num dos intervalos, entrei na cozinha para pegar água mineral. A senhora que trabalha lá, uma mulher relativamente ainda jovem e bem simpática, me perguntou: "Como se escreve álcool?"

Na hora fiquei meio perdida, achei que fosse brincadeira, porque há momentos em que meu cérebro se esquece que está noutro país, sei lá, mas parecia que eu estava entrando numa cantina de uma escola pública brasileira. Aí vi que ela estava meio afoita mesmo e fui até ela tentar ajudá-la. Bateu-me uma certa dúvida e achei que o correto era "alchol", "alchohol" ou algo assim, não me lembro mais. Mas logo vi que aquilo não estava certo. Disse a ela, então, que era "alcohol". Só que ela tinha muita, mas muita dificuldade em compreender e em escrever. E, diga-se de passagem, ela é inglesa, não é estrangeira vivendo em Londres não.

Como tenho mania de confirmar tudo, fui até uma professora que estava fazendo o mesmo curso comigo e soletrei a palavra álcool para ela, que ficou meio em dúvida e me disse: "É isso mesmo". Mas sem muita certeza. Até me senti aliviada! Voltei e disse à senhora que era mesmo "alcohol", e ela me agradeceu pela ajuda. É que ela estava correndo para servir lanche naquele dia, pois havia várias coisas acontecendo ao mesmo tempo, e ela tinha que escrever aquele aviso. Infelizmente, não prestei atenção à mensagem no papel.

Portanto, quando se diz que todos os ingleses falam Inglês, é bom tomar um certo cuidado. Aquela mulher me respondeu, em poucos segundos, o que os professores aqui teimam em não me responder. Ela não sabe como me ajudou. E nem me cobrou nada por isso...

Afinal, estamos todos no País das Maravilhas!

Até!
Rosane.
Cambridge, 14 de janeiro de 2012.

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