quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"É preciso imaginar Sísifo feliz"

Leitor,

Pensando e pensando sobre a educação no Brasil, e a educação de uma maneira geral, sinto-me um pouco aturdida. Não desesperançosa, isso não, mas vem um certo incômodo.

Tenho a impressão de que, independente do país, quando se trata de política, tenta-se sempre maquiar os dados, as informações, e os problemas da educação vão sendo empurrados, empurrados pelos nossos queridos políticos.

Se você entrar no site do Ministério da Educação e acessar o link FNDE, você acessará o Biblioteca da Escola e verá que aquilo é uma máquina de distribuição de livros. Só isso. E para quê, se ninguém lê? Nosso dinheiro está sendo jogado fora. E os editores estão ficando cada vez mais ricos. E alguns políticos que se beneficiam do PNBE também estão cada vez mais ricos. Alguém tem que avisar a presidenta Dilma, por favor!

E essa é uma constatação não só minha. O próprio MEC lançou uma pesquisa em que aparecem lá os inúmeros problemas que dificultam o acesso à leitura. Está lá, no próprio portal do MEC. Ou seja, o governo encomenda uma pesquisa que atesta sua própria incompetência e nem fica vermelho de vergonha. O problema desse país, quando se trata de política, é a falta de vergonha, é a mais completa ausência de ética. Essa gente não estudou Educação Moral e Cívica, não estudou a ética vinda dos filósofos?

O link da pesquisa encomendada pelo MEC é este:


E veja a que se propõe o PNBE, como se encontra no site:

A democratização do acesso às fontes de informação; o fomento à leitura e à formação de alunos e professores leitores; e o apoio à atualização e ao desenvolvimento profissional do professor são os principais objetivos do Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE. Por meio da distribuição de acervos de obras de literatura, de pesquisa e de referência e outros materiais relativos ao currículo nas áreas de conhecimento da educação básica, o governo federal apoia o cidadão no exercício da reflexão, da criatividade e da crítica.

Desde que foi criado, em 1997, o programa vem se modificando e se adequando à realidade e às necessidades educacionais. Sob a gestão do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE, tem recursos financeiros originários do Orçamento Geral da União.

Infelizmente, isso está só na teoria. As escolas públicas brasileiras estão cada vez mais se afundando num abismo absurdo. Isso me faz lembrar o jornalista e escritor argelino, Albert Camus, que faz uma interpretação bonita do mito de Sísifo, e que é a minha preferida, por não achá-la pessimista: "É preciso imaginar Sísifo feliz", assim ele termina o livro O Mito de Sísifo.

É que Sísifo, um dos raros homens gregos a dominar a escrita naquela época, driblou a fúria dos deuses, que queriam matá-lo, e foi condenado a empurrar, eternamente, uma rocha até o alto do penhasco. Quando chegava lá, a rocha resvalava e ele tinha que começar tudo de novo. Mas, para Camus, Sísifo representava o operário moderno e, acredita o escritor que, durante o percurso, Sísifo encontrava sentido na vida, no existir, embora para muitos ele estivesse condenado ao fracasso total.

Acho que esse trabalho repetitivo de rolar essa pedra chamada educação cansa, mas acredito que em algum momento haverá um despertar. Daqui a cem anos? Daqui a quinhentos anos? Não estarei aqui para ver, mas espero que um dia a nossa Constituição seja respeitada. Isso é o mínimo que se pode esperar de um país decente.

Mas o Brasil, quando se trata de política, é um país indecente. A nossa educação pública é indecente. O descaso é proposital. Nossos políticos sabem muito bem que, se a população brasileira recebesse educação pública de qualidade, tudo mudaria. A maioria deles não seria eleita. A maioria dos políticos nem sabe ler! Ah, mas sabem muito sobre a arte de ser desonesto. Para isso, a leitura não lhes faz falta. Mas como são atrasados...

A foto da folha seca foi tirada, no ano passado, no St. James´s Park, em Londres, aquele parque nas redondezas do Palácio de Buckingham. Se você vier à Inglaterra, vale a pena visitá-lo.

Até!
Rosane.
Cambridge, 19 de janeiro de 2012.

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