segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Um jeito de ser

Leitor,

Estar pesquisando na área de educação me faz pensar muito, mas muito mesmo nas relações humanas. Se antes eu já pensava, agora a intensidade é maior.

Escolhi a área de comunicação porque sempre achei que comunicar-se com as pessoas não é tarefa fácil. Mais tarde na vida percebemos que a comunicação conosco mesmos também tem lá suas discrepâncias. Esse nosso eu às vezes nos prega muitas peças.

Mas sou utópica. Não otimista, que dessa palavra não gosto. Gosto da palavra grega utopia. Anos atrás, indiquei um livro para estudantes de jornalismo e a jovem aluna, com ar de enfrentamento, olhou para mim e me disse: "Você é utópica!".

Ela estava me dizendo: "Onde já se viu achar que vamos ler este livro, ou seja, que vamos L-E-R?!".

Contei isso a uma pessoa amiga, que me ajudou a compreender que aquilo, que me fez sentir afrontada, sem que a garota soubesse, era, na verdade, um elogio às avessas. Sim, fiquei contente com a reinterpretação, com a ressignificação do sentido. Sou mesmo utópica e, quando em sala de aula, indico livros para que os alunos leiam. Por que não?

Aqui em Cambridge, questões antigas vêm à tona, mas ainda não tenho respostas. Acho que, cada vez mais, o mundo acadêmico, esse da pesquisa, é frio. É sem graça. É previsível. É repetitivo. É redundante. É pouco inovador. É. É. É. E não É.

A terra, o chão, o solo não são preparados para que o aluno floresça. Se é assim nas universidades, imagina entre as crianças, os jovens? E entre aqueles que estudam nas escolas públicas? Quantos talentos, que poderiam florescer e brilhar, são perdidos diariamente? São sufocados, deliberadamente? Quantos brasis ainda estão por vir, mas que se perdem nas sombras?

Deixo aqui um trecho do livro do humanista e psicólogo americano, Carl Rogers, Um jeito de ser, porque me identifico bastante com o que ele diz, especialmente nesse momento da minha vida. Porque acho que é muito difícil encontrar um lugar onde possamos florescer. E se criássemos esse lugar, ao invés de esperar que alguém o crie para nós?

(Cadê a aluna para me dizer que sou utópica? Pobre garota, que perdeu tão cedo a capacidade de sonhar e talvez nem saiba...)

Rogers:

Quando sou ouvido, torno-me capaz de rever meu mundo e continuar. É incrível como alguns aspectos que antes pareciam insolúveis tornam-se passíveis de solução quando alguém nos ouve. É incrível como as confusões que pareciam irremediáveis transformam-se em correntes que fluem com relativa facilidade quando somos ouvidos. Fiquei imensamente satisfeito nos momentos em que fui ouvido desta forma sensível, empática e concentrada.

Até!
Rosane
Cambridge, 30 de janeiro de 2012.

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